sexta-feira, 22 de março de 2013





Gotas de luz e perfume,
Leves, tênues, delicadas,
Acesas no doce lume
De purpúreas alvoradas.

Pingos de ouro cristalinos
Alados na esfera, ondeando,
Dispersos por entre os hinos,
Da natureza vibrando.

Sorrisos aéreos, soltos,
Flavas asas radiantes,
Que levam consigo envoltos
Da aurora os sóis fecundantes.

Da aurora que a primavera
Faz cantar, brota no peito
E floresce em folhas de hera
O coração satisfeito.

Essa aurora produtiva
Do amor soberano e eterno,
Que é nas almas força viva
E nas abelhas falerno.

Nas doudejantes abelhas
Que dentre flores volitam
E do sol entre as centelhas
Resplendem, fulgem, palpitam.

Zumbem, fervem nas colméias
E rumorejam no enxame
Pelas flóridas aléias
Onde um prado se derrame.

Assim mesmo pequeninas
E quase invisíveis, quase,
Com as suas asitas finas,
De etérea de fluida gaze.

Ah! quanto são adoráveis
Os favos que elas fabricam!
Com que graças inefáveis
Se geram, se multiplicam.

Nos afãs industriosos
Que enlevo, que encanto vê-las
Com seus corpos luminosos
D'iriante brilho d'estrelas.

E nas ondas murmurosas
Dos peregrinos adejos
Vão dar ao lábio das rosas
O mel doirado dos beijos.


Cruz de Souza

O girassol




Sempre que o Sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel.

O girassol é o carrossel das abelhas.

Pretas e vermelhas
Ali ficam elas
Brincando, fedelhas
Nas pétalas amarelas.

- Vamos brincar de carrossel, pessoal?

- "Roda, roda, carrossel
Roda, roda, rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor."

- Marimbondo não pode ir que é bicho mau!
- Besouro é muito pesado!
- Borboleta tem que fingir de borboleta na entrada!
- Dona Cigarra fica tocando seu realejo!

- "Roda, roda, carrossel
Gira, gira, girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o Sol."

E o girassol vai girando dia afora...

O girassol é o carrossel das abelhas. 


Vinicius de Moraes

Destino




Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Almeida Garrett




Uma pergunta curiosa,
Não me dirás, flor vermelha,
porque é que Deus te fez Rosa
e a mim não fez abelha...  


Guerra Junqueiro

Abelha




A uma papoila vermelha
Confio o olhar:
Guloso dela,o meu olhar é como uma abelha.

A que havia eu, senão a ela,de o confiar?
A uma papoila vermelha
me dou inteiro,
que do sol,além do ímpeto,tem o cheiro.


Armindo Magalhães

A flor, a abelha e o mel





Ainda a flor sorria
Do beijo que a abelha deu
Outra abelha lhe pedia
Um pouco do pólen seu

Mais um sorriso surgiu
Pelo gesto carinhoso
E logo depois partiu
Com seu manjar guloso

Junta-se à abelha anterior
No voo para a colmeia
Numa aliança em puro anel

São percursos de amor
Que a natureza incendeia
E nos dão o saboroso mel


António MR Martins

Os Amores da Abelha



Quando, em prônubo anseio, a abelha as asas solta
E escala o espaço, - ardendo, êxul do corcho céreo,
Louca, se precipita a sussurrante escolta
Dos noivos zonzos, voando ao nupcial mistério.

Em breve, sucumbindo, o enxame arqueja, e volta...
Mas o mais forte, um só, senhor do excelso império,
Segue a esquiva, e, em zunzum zeloso de revolta,
Entoa o epitalâmio e o cântico funéreo:

Toca-a, fecunda-a, e vence, e morre na vitória...
A esposa, livre, ao sol, no alto do firmamento,
Palra, e, rainha e mie, zumbe de orgulho e glória;

E, rodopiando, inerte, o suicida sublime,
Entre as bênçãos da luz e os hosanas do vento,
Rola, mártir feliz do delicioso crime.


Olavo Bilac

terça-feira, 19 de março de 2013

As abelhas




A aaaaaaabelha mestra
E aaaaaaas abelhinhas
Estão toooooooodas prontinhas
Pra iiiiiiir para a festa.

Num zune que zune
Lá vão pro jardim
Brincar com a cravina
Valsar com o jasmim.

Da rosa pro cravo
Do cravo pra rosa
Da rosa pro favo
Volta pro cravo.

Venham ver como dão mel
As abelhinhas do céu!


Vinicius de Moraes

terça-feira, 12 de março de 2013




Quando comunga, a alma se impregna
do bálsamo do amor, como a abelha
do perfume das flores.


São João Maria Vianney.



Letras são abelhas, palavras enxames, livros colméias... Leitores flores, autores apicultores...E a literatura uma infinita fábrica de mel.

M. M. Soriano