domingo, 21 de fevereiro de 2010

Abelha branca


















Abelha branca oriental, tu zumbes ébria de mel em minha alma, e te torces em lentas espirais de saudades.

Eu sou o desesperado, a palavra sem o mínimo eco.

O que tudo eu perdi, o que tudo eu já tive, o que tudo eu vi.

Algema extrema - tange em ti a minha ânsia última.

Em minha pátria deserta, és tu, a última rosa selvagem.

Ah, silenciosa!

Fecha os teus olhos pretos profundos, pois em breve atraca a noite

Ah, desnuda o teu corpo de estátua branca e temerosa!

Bruxuleia com a tua pálida cor quente esta noite tenebrosa.

Tens profundos os olhos, que em meu lugar a noite se esconde.

Frescos braços de flor e regaço manso de rosas.

Teus seios se assemelham a caramujos brancos ovalados.

Ah, silenciosa!

É aqui o ermo de onde estás ausente.

Chove! São lágrimas verticais de saudades.

O vento do mar caça teimosas gaivotas que bicam as minhas doridas lembranças.

A água anda sem rumo pelas ruas molhadas.

Queixam-se como enfermos, naquela árvore solitários pássaros, cúmplices meus nesta soledade.


Eráclito Alírio da silveira

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